Mais como eu mesma.


Tranquei a porta do quarto.Coloquei Living on a prayer do Bon Jovi pra tocar no último volume.Não foi no fone de ouvido plugado no celular ou na caixinha de som do computador.Foi naquele som bem antigo, bem da época que modernidade era ter discman.Cantei a música aos gritos, a voz saltando por cima do último volume do stereo.Dancei também.
Dancei tanto, que as pernas doíam e o suor escorria pelo meu corpo, enquanto a garganta entoava música e também se rasgava.Eu sabia que no dia seguinte estaria rouca.Todas as minhas músicas de rock dos anos 80 e 90 tocavam e eu cantava cada vez mais alto.Dançava e saltava até ficar sem ar, com a visão um pouco turva.Mas a cada pedacinho de dor que surgia no meu corpo, mais eu me sentia livre, sempre um pouco mais como eu mesma.
Era como se estivesse me resgatando dos anos presa a ele, anos que me anulei por completo e passei a ser quem ele queria, não quem eu era.
Eu fingia gostar de sertanejo universitário e arrocha e frequentava barzinhos que só serviam cerveja A Outra, quando o que eu mais queria era estar um pub, ouvindo um pop/rock das antigas.
Comecei a comer hambúrguer com milk shake toda sexta, porque ele achava que era cool. E o cachorro quente do food truck com Mate Cola da praça era coisa de gente sem classe.

Até meu jeito de vestir ele mudou!

Me pergunto onde minha cabeça estava quando tudo isso saiu do controle…
Bom, provavelmente nas nuvens, porque é lá que eu sempre vivi.
Mas quando ele me forçou a descer pra terra, aaaah, aí a história mudou.
Ninguém me tira do mundo assim.
O que esse cara tinha de tão especial?
Eu te respondo: N A D A!
A ficha demorou a cair, mas aí também, ela despencou!
Não que eu seja do tipo que é contra mudanças, mas eu sou do tipo que muda quando se vale a pena.
E ele não valia e nunca valeu.
Então eu larguei ele e voltei pra mim.
Voltei pra vida de não usar sutiã,
De ouvir pop/rock e comprar dogão aqui do lado de casa.
E comecei preferir assistir séries do que gastar meus dias com mais caras como ele.
Cópias fiéis, sempre mais do mesmo.
Ao fim de toda aquela dança, cantoria e suor, eu já me sentia parte de mim.
Não mais um objeto usado por capricho de um idiota qualquer.
E aprendi minha lição:
Quem quer que queira te mudar e transformar seu jeitinho tão único de ser, não vale à pena SER.
Sim, SER e não ter.
Não vale à pena SER um objeto nas mãos dessa pessoa.
Nunca perca seu eu!

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