Querida nova psicóloga
É difícil para um Excelentíssimo Senhor Caralho essa coisa de vida, né?
É por isso que estaremos juntas - até que você abandone seus pacientes, como sempre acontece.
As vezes eu sinto que vou desabar, por ter sido forte por um período de tempo, por ter conseguido me manter como a velha eu que sorri por aí, sem preocupações. Mas os fantasmas nunca se afastam de forma permanente, não é mesmo? Os meus andaram dando as caras nos últimos dias. Eles têm me consumido de dentro para fora, sem que eu queira, realmente, admitir isso.
Uma hora eles vêm e mostram seus rostos, frente a imagem que reflete meu reflexo no espelho. Os olhos cheios de lágrimas, o nariz vermelho e entupido, vermelho no lugar do verde do olhar, de tanto transbordar em lembranças e medos.
A instabilidade sempre volta, agravada pela lembrança de humilhação e incapacidade. Humilhação de não se saber o que quer. Minha incapacidade brilhando no reflexo dos olhos de alguém, veladamente me acusando de algo que eu vejo todos os dias, mas que não gosto de me lembrar.
É sempre doloroso ver como os nossos bons pensamentos podem desmoronar, como um castelo de cartas, por causa de um par de frases. É, tão sensível assim, tão brutal em mim. Será que há uma veia em mim que pulsa com alguma coisa boa que eu fiz?
Parece que eu estou sempre errando, sempre decepcionando as pessoas, sempre me atacando com minha própria fraqueza e me alimentando de cada sentimento ruim que aparece. Até o corpo convulsionar, o estômago enjoar e o mundo dentro da minha cabeça se revirar.
Aaaah, querida nova psicóloga, vai ser difícil recomeçar mais uma vez, porque tudo em mim tem ardido as lembranças de todo o passado, de tudo o que me machuca e, reviver isso, reviver isso dói, me mata aos poucos, me despedaça em cada sessão de meia hora.
Como eu queria estar curada de todas as lembranças e de todos os conceitos sobre mim, que me ensinaram a ser ao longo desses 25 anos... Mas as palavras, elas pesam demais e já fizeram um buraco permanente no lugar que deveria estar meu coração inteiro.
Eu queria me perdoar, perdoar o passado, esquecer as mágoas e seguir em frente, reconstruindo e ressignificando cada pedaço em mim. Ser inteira. Sem buracos causados pelos outros. Mas acredito que, a esta altura, não exista mais um inteiro de mim.
Nosso trabalho será longo e doloroso, querida nova psicóloga.
Deixe os lenços do meu lado do sofá e se prepare para a imensa carga de dor e negatividade que sai pelos meus poros.
Ah, boa sorte!
As vezes eu sinto que vou desabar, por ter sido forte por um período de tempo, por ter conseguido me manter como a velha eu que sorri por aí, sem preocupações. Mas os fantasmas nunca se afastam de forma permanente, não é mesmo? Os meus andaram dando as caras nos últimos dias. Eles têm me consumido de dentro para fora, sem que eu queira, realmente, admitir isso.
Uma hora eles vêm e mostram seus rostos, frente a imagem que reflete meu reflexo no espelho. Os olhos cheios de lágrimas, o nariz vermelho e entupido, vermelho no lugar do verde do olhar, de tanto transbordar em lembranças e medos.
A instabilidade sempre volta, agravada pela lembrança de humilhação e incapacidade. Humilhação de não se saber o que quer. Minha incapacidade brilhando no reflexo dos olhos de alguém, veladamente me acusando de algo que eu vejo todos os dias, mas que não gosto de me lembrar.
É sempre doloroso ver como os nossos bons pensamentos podem desmoronar, como um castelo de cartas, por causa de um par de frases. É, tão sensível assim, tão brutal em mim. Será que há uma veia em mim que pulsa com alguma coisa boa que eu fiz?
Parece que eu estou sempre errando, sempre decepcionando as pessoas, sempre me atacando com minha própria fraqueza e me alimentando de cada sentimento ruim que aparece. Até o corpo convulsionar, o estômago enjoar e o mundo dentro da minha cabeça se revirar.
Aaaah, querida nova psicóloga, vai ser difícil recomeçar mais uma vez, porque tudo em mim tem ardido as lembranças de todo o passado, de tudo o que me machuca e, reviver isso, reviver isso dói, me mata aos poucos, me despedaça em cada sessão de meia hora.
Como eu queria estar curada de todas as lembranças e de todos os conceitos sobre mim, que me ensinaram a ser ao longo desses 25 anos... Mas as palavras, elas pesam demais e já fizeram um buraco permanente no lugar que deveria estar meu coração inteiro.
Eu queria me perdoar, perdoar o passado, esquecer as mágoas e seguir em frente, reconstruindo e ressignificando cada pedaço em mim. Ser inteira. Sem buracos causados pelos outros. Mas acredito que, a esta altura, não exista mais um inteiro de mim.
Nosso trabalho será longo e doloroso, querida nova psicóloga.
Deixe os lenços do meu lado do sofá e se prepare para a imensa carga de dor e negatividade que sai pelos meus poros.
Ah, boa sorte!
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